Amityville, de Jay Anson

by - novembro 03, 2022


Desde que comecei nessa cruzada com o terror eu me tornei uma pessoa razoavelmente corajosa. Consigo assistir e ler algumas coisas sem ser atingida diretamente por elas. Isso, há alguns anos atrás, teria sido impossível. Eu era muito impressionável. Acho que o terror do dia a dia me ajudou até a ficar um pouco anestesiada com o terror das telas e dos livros. O terror dessas produções, afinal de contas, pode funcionar de forma catártica: o saber que você está enfrentando uma situação de estresse emocional e vai sair vivo dali, diferente do terror diário.

Mas uma coisa que sempre me deixou com o pé um pouco atrás foram as casas assombradas. Para mim, saber que meu lar pode ser violado por presenças sobrenaturais (e naturais também, home invasion me deixa de cabelo em pé sempre que assisto) é algo aterrorizante. Eu lido com isso dormindo com a TV ligada em algum desenho, e na manhã seguinte tudo parece normal de novo.

O problema é que eu adoro livros e filmes de casas assombradas, espíritos, possessões, esse tipo de coisa. Gosto de fantasmas, gosto do que eles podem significar no terror; gosto até quando eles não significam absolutamente nada, somente uma presença que está ali, dividindo sua casa com você. Gosto, mas tenho medo. 

Passei por uma única experiência real de terror do que acho que foi um fantasma. É uma história longa e cheia de pormenores que não quero adentrar agora, mas vi uma figura agachada no banheiro de uma casa antiga. Eu vi, conversei com ela, achando que era minha mãe, segui até a cozinha e minha mãe estava na área de serviço. Eu me lembro como se fosse ontem. 

Há algo de fascinante nisso. No terror dessas presenças e na própria presença em si. Sou muito crente que muita coisa existe entre o céu e a terra, muito além do que sonha nossa vã filosofia, Horácio. Então essas histórias têm um peso em mim.

Dito isso, peguei para ler Amityville, do Jay Anson. Recebi a edição nova da DarkSide, com tradução de Eduardo Alves, que foi lançada no Halloween do ano passado, e resolvi pegar para ler agora no finalzinho de outubro. É engraçado, quando você trabalha diariamente com terror é muito difícil encontrar o que fazer de especial no Halloween. Eu poderia ler algum romance, talvez. Mas enfim. Continuei com minhas leituras de terror mesmo.

O livro de Anson ficou conhecido mundialmente por ser uma história supostamente real e porque dele resultou o filme Terror em Amityville, lançado em 1979, apenas quatro anos após os acontecimentos da casa assombrada da rua Ocean Avenue. 

No livro, conhecemos a família Lutz, que pegou todas as suas moedas escondidas embaixo do colchão e correu para comprar a casa dos sonhos: uma enorme casa, com três andares, no estilo holandês, com uma casa de barcos, excelente localização e um amplo quintal para as três crianças brincarem. Os pais eram George e Kathy Lutz — as crianças eram fruto do primeiro casamento de Kathy. Enfim, tudo parecia perfeito, conseguiram um bom valor pelo local. Mas claro, isso foi possível porque um crime medonho havia acontecido ali. No ano anterior, Ronald DeFeo assassinou toda sua família. Ao ser preso, DeFeo afirmou que ouvia vozes.

Como é de se esperar nesse tipo de narrativa, há um crescente de terror. Aos poucos, a família vai percebendo que existem situações naquela casa, presenças, horrores, uma história macabra, vários pedaços de um quebra-cabeça que, ao todo, formam uma imagem de um local sinistro e amaldiçoado. Conforme as pequenas coisas vão acontecendo, até formarem um mosaico com horrores grandiosos, nós já estamos desesperados, gritando com o livro, implorando que a família largue o osso e saia correndo pra já desse lugar infernal.


Eu não sou uma pessoa apegada. Quando leio esse tipo de coisa tenho cada vez mais certeza que ao mínimo sinal de acontecimentos assim eu já estaria a vários quilômetros de distância. 

Existe um tipo de livro que não importa que você saiba da história, não há spoiler que tire os seus sentimentos enquanto você acompanha a narrativa. Amityville é, pra mim, um desses livros. Eu não sei quantas vezes eu li a história por outros meios, ou assisti ao filme. Mas há algo na leitura, há algo em acompanhar essa história através das palavras. 

Enfim, eu fiquei aterrorizada em acompanhar as tragédias e situações incômodas e aterrorizantes que os Lutz passaram nessas páginas. É uma leitura muito intensa. Curta, mas se você tem medo de assombrações e fica impressionado com esse tipo de narrativa, você vai se pegar pensando nela ao longo dos dias. 

Quero abrir um parênteses especial para o texto de Marcia Heloisa ao final do livro. Marcia dá uma aula sobre casas assombradas e a tradição desse tipo de história, reunindo elementos do por que Amityville se tornou um livro tão duradouro no imaginário popular, e como fez tanto sucesso ao longo dos anos. É uma leitura excelente para refletir as características que a gente acabou de ler, um ensaio curto e que nos faz compreender algumas coisas sobre o livro. 

"Se o lar espelhava o país, estavam ambos expostos, vulneráveis, em perigo. E é justamente nesta baixa imunidade social que o horror dissemina o medo como vetor de contágio."

Não vou deixar nenhuma conclusão neste texto, se o que aconteceu em Amityville foi real ou não, porque esse não é meu papel. Não sou parapsicóloga, nem médium, ou advogada. Mesmo que tudo que estivesse escrito nestas páginas fosse o relato da mente frágil de uma família que não passou por tudo aquilo, mas acredita que passou, ainda sim o texto serve de documento e contexto, como bem demonstrou o ensaio de Marcia Heloisa, para um sentimento sobre aquele local. Independentemente de ser real ou não, é o que faz com que as pessoas sintam quando leem esse relato que me interessa. A mim, o sentimento foi medo. 

Amityville, de Jay Anson, na nova edição da DarkSide Books, pode ser comprado na Amazon* ou na Loja Oficial da editora. 


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*Comprando com meus links da Amazon, você dá aquela forcinha sem pagar nada a mais por isso :)

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1 comentários

  1. "Conforme as pequenas coisas vão acontecendo, até formarem um mosaico com horrores grandiosos, nós já estamos desesperados, gritando com o livro". Sim! Mesmo sabendo o que acontece eu fiquei apreensiva enquanto lua, q alguma coisa pior ia acontecer.
    A parte do amigo imaginário da garotinha e o que ele é, olha .. que cagaço!!
    E hj por coincidência é aniversário do Jay Anson!

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