A Dança da Morte, de Stephen King
Eu não costumo projetar quando farei determinadas leituras. Já comentei isso algumas vezes aqui no blog, inclusive quando pensei com a Mi em fazer o desafio literário. Nunca consigo participar de clubes de leitura, nunca consigo decidir com antecedência que leitura fazer no mês (mas tenho tentado, vou até fazer uma lista de possíveis leituras para fevereiro, aguardem).
Quando decidi ler A Dança da Morte, entretanto, eu tinha claro para mim que queria que essa leitura acontecesse no recesso de final de ano. Eu não costumo ler dois ou três livros ao mesmo tempo, e pelo tamanho desse tijolo eu imaginei que seria melhor o período de férias.
Acho que acabei demorando demais para começá-lo. Na verdade, comecei a lê-lo já no dia do meu aniversário. Acabou que essa leitura se estendeu por um mês e uma semana. Tive até que recorrer a outras leituras, porque tinham dias que eu não tava muito afim de enfrentar toda aquela treta.
Foi uma longa jornada que deixou meu coração (e minha mente) em frangalhos.
Mas finalmente chegou ao fim.
E este aqui é o texto da vitória.
Não me levem a mal. Amo livros. Leio bastante. Adoro ler. O problema do livro não é ele ter 1200, 1500 ou 2000 páginas. Se juntar os livros que leio no mês, eu leio mais ou menos isso mesmo. Mas A Dança da Morte é um livro denso. Não é que ele é difícil, mas ele tem muitas personagens, e tudo é terrível, e é um pouco desgastante. O livro não é ruim, longe disso, é um épico cheio de sabores e dissabores. Mas é longo.
Então, o primeiro aviso que dou para quem quiser se aventurar nesse livro, é: vá preparado. Esteja pronto para mergulhar em 1200 páginas e ter sentimentos avassaladores e confusos. Mas vamos por partes.
A Dança da Morte, livro escrito por Stephen King (li a edição publicada pela Suma, com tradução de Gilson Soares), foi publicado originalmente em 1978, com uma versão expandida em 1990. Já teve duas versões para TV (uma delas com o grande astro do meu coração Rob Lowe) que ainda não assisti, mas estou esperançosa que até o final do ano assisto pelo menos uma delas (kkkk vamo na fé). Na história, uma epidemia (!) de gripe (!!) varreu o mundo (!!!) assassinando cerca de, sei lá, 90% da população. Os personagens do livro, aqueles que sobraram, se dividiram em duas "facções": os que sonharam com o Homem Escuro — Randal Flagg, personagem clássico do lore do Stephen King que aparece também em A Torre Negra e outros — e se dirigiram para Las Vegas, Nevada; e aqueles que sonharam com Mãe Abagail, e se dirigiram para Boulder, no Colorado.
Basicamente, em uma divisão simples, as pessoas "boas" foram para Mãe Abagail, e as pessoas "ruins" foram para Randal Flagg.
No livro, nós acompanhamos desde o momento em que houve uma falha de segurança e esse vírus escapou para o mundo. Levando em consideração que estamos, ainda, enfrentando um vírus bastante assustador que nos deixou em uma pandemia por quase três anos, foi extremamente aterrorizante ler o avanço e as mortes causadas por ele. No caso dessa história, o vírus foi uma criação do governo norte-americano para ser usado como uma arma biológica.
Agora, uma curiosidade sobre mim: eu odeio esse tipo de coisa, porque eu sinto em mim. É um negócio muito esquisito. No começo do covid eu lia notícias e parecia sentir os sintomas mesmo não estando com sintoma nenhum. Isso se arrasta para outras coisas também. Por exemplo: vejo cenas com insetos em filmes, e sinto que os insetos estão em mim. É horrível. Então passar por essa primeira parte do livro foi um negócio, olha, sem palavras.
Pois bem, é nesse cenário de tragédias que vamos conhecendo os personagens mais importantes. Mãe Abagail surge como um farol em meio às trevas, servindo como aliada de Deus na jornada do povo que sobrou do pós-vírus. Flagg, em contraponto, é o Mal encarnado. Do lado de Mãe Abagail temos Stu Redman, Frannie Goldsmith, Nick Andros, Tom Cullen, Larry Underwood, Glen Bateman, Kojak (o cão), Ralph Brentner, Susie Stern, Lucy Swann e Juíz Farris. Do lado de Flagg, são Lloyd Henreid, O Homem da Lata de Lixo, Nadine Cross e Harold Lauder. Esses dois últimos são um pouco de spoiler, porque eles começam a jornada indo para Boulder, mas acabam indo para Las Vegas, mas não vou contar como e nem o motivo. Flagg também tem alguns outros ajudantes, mas os mais importantes são esses.
O segundo aviso, que é mais como um conselho, é um que eu sempre dou quando qualquer pessoa me fala que vai ler Stephen King: não se apegue a nenhum NENHUM personagem. Eu repito isso incansavelmente, e continuo não seguindo meus próprios conselhos. Esse livro foi um massacre de favoritos.
A Dança da Morte é um épico sobre o bem e o mal. Ponto. Mas, por mais que King tenha tentado delimitar exatamente o que é um e o que é o outro, essas fronteiras são muito borradas. Eu diria que mais do que uma história sobre bem e o mal, é uma história sobre as forças que exercem ambos os lados, e quem é forte o suficiente para lidar com cada uma delas. O lado de Boulder, que representa o bem, tem vários defeitos. A própria Mãe Abagail, que é a voz de Deus na Terra, tem lá seus problemas — eu guinchei quando ela disse que o comunismo era coisa do mal. Mas dá pra entender essa batalha que King armou: acima de ter defeitos ou qualidades, o que importa é o que você faz com isso, e como você se defende quando a voz macia da maldade fala no seu ouvido, ou quando a voz da bondade surge como um trovão e te manda fazer sacrifícios impensáveis.
É um baita livro, não tenho como discordar. Eu me diverti muito lendo, e também fiquei muito nervosa e tive uma série de outros sentimentos complexos no meio do caminho.
Se eu tivesse que fazer uma crítica, entretanto, nem seria pelo tamanho deste calhamaço que me deixou com dores nas mãos até o momento em que escrevo este texto. Seria, sim, por um problema que o King carrega desde os anos 1970 e até hoje não mudou. Digo até hoje porque ele cometeu algo semelhante em Joyland (que eu escrevi aqui), que é um livro recente. Tom Cullen, um dos meus personagens favoritos do coração, tem algum tipo de deficiência intelectual que não fica clara. E, bom, ele é um tipo de ser especial por causa disso. King usa esse recursos em diversos outros livros e isso é um bocado problemático. O trope, no TV Tropes, está categorizado como "Inspirationally Disadvantaged", algo como "desfavorecido inspirador". Novamente, eu não questiono a intenção do King. Esse livro foi escrito em 1978. Mas é algo que deve ser pontuado, e que eu vou continuar pontuando.
Mas, fora isso, e apesar de momentos que me irritaram bastante, eu gostei bastante da leitura. Foi longa, fiquei meio injuriada, mas foi ótima também. E fico feliz de ter tirado ele da minha lista de leituras de Stephen King. Já risquei dois dos maiores calhamaços dele. Me sinto pronta para seguir em frente.
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