Vitorianas Macabras, antologia da DarkSide Books

Que nós conhecemos poucas autoras de terror, antigas ou contemporâneas, é um fato. Se colocarmos em uma balança a quantidade de nomes de homens que lembramos por terem escrito terror, o número de mulheres é bem menor. Três autores clássicos de terror? Edgar Allan Poe, Bram Stoker e Lovecraft. Atuais? Stephen King, Joe Hill, Clive Barker. As vezes, inclusive, temos que nos esforçar para lembrar nomes de mulheres. E não porque elas não estiveram ou estão lá, mas simplesmente porque nos falha a apresentação, o reforço, a lembrança.
Quando li Monster, She Wrote: The Women Who Pioneered Horror and Speculative Fiction, um livro muito interessante de Lisa Kröger e Melanie R. Anderson que apresenta diversas mulheres que escreveram horror desde que o gênero é reconhecido por esse nome, eu notei o tamanho da falta de informação que temos sobre a história do horror na literatura. Algo que notei, também, é no reforço dos mesmos nomes, sempre. Mas esse texto vai ter que ficar para outra hora. Nesse momento quero falar sobre a importância de lembrarmos dos nomes de mulheres que escreveram terror.
Incontáveis são os textos em que advogo por essa necessidade. Acredito que, sempre que me pedem indicações de livros, é um dos meus trabalhos citar mulheres que escreveram. Porque sim, porque quero que mais mulheres que não tiveram seus trabalhos reconhecidos em vida tenham hoje, e que isso abra espaço para que novas autoras percebam que podem e devem contar suas histórias.
Então, quando Vitorianas Macabras foi anunciado, eu fiquei em êxtase. Mais da metade daqueles nomes eu tinha lido em Monster, She Wrote. E fiquei muitíssimo feliz de ter todas as minhas expectativas atendidas em uma edição lindíssima e com tamanho cuidado.
O livro:
Além de 13 contos excelentes de autoras que dificilmente chegariam até nós, o livro ainda conta com apresentações sobre elas, textos sobre elementos importantes que marcaram o período vitoriano e uma excelente apresentação de Rainha Vitória, uma mulher interessante de ser conhecida.
A tradução fica por conta de Marcia Heloisa, leitora, tradutora e pesquisadora de horror, já tendo contribuído anteriormente com a DarkSide na belíssima edição lançada de Drácula. O livro é um dos três primeiros lançamentos do Selo Macabra, uma parceria da DarkSide Books com o site Macabra.TV. Os outros lançamentos foram Medicina Macabra, que conta com causos médicos antigos, e Antologia Macabra, com vários nomes do horror internacional.
Destaques:
Nesses 13 contos é possível encontrar todo o tipo de terror, principalmente o fantasmagórico, mas com enormes diferenças entre si. Entre meus preferidos, gostaria de destacar alguns:- "A Porta Sinistra", de Charlotte Riddell: Eu fiquei encantada com toda a aura de mistério que permeia o conto. Ele tem algo de sobrenatural, algo de detetivesco, algo que fascina mesmo e chama a atenção para o estilo de narrativa de Riddell em primeira pessoa, construindo um personagem carismático pelo qual tememos e nos preocupamos.
- "O Coche Fantasma", de Amelia B. Edwards: Desde que conheci o nome de Amelia eu fiquei fascinada por sua história. Egiptóloga, foi cofundadora da Egypt Exploration Society, e fez muito por essa ciência durante a vida. Além disso, Amelia é considerada um símbolo e ícone LGBTQ+, tendo morrido pouco tempo após a morte de sua companheira Ellen Braysher, e ambas estão enterradas em Bristol, local listado como patrimônio LGBT da Inglaterra. Não bastasse tudo isso, o conto de Amelia na antologia é o mais puro suco de assombração e fantasmagoria que poderíamos querer. Uma excelente história de fantasmas que, imagino, já tirou o sono de muitos antes de mim.
- "A Prece", de Violet Hunt: Talvez um dos contos que mais me tocou durante a leitura da antologia, uma história bastante triste sobre um casamento conturbado, que passou do amor ao ódio de forma silenciosa, onde a esposa já não consegue reconhecer o próprio marido e a apatia dele não demonstra qualquer esforço de mudança. Uma história aterrorizante, mas também triste e com passagens doloridas.
- "A Verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade", de Rhoda Broughton: esse conto de Rhoda pode fazer com que aqueles fãs que gostam de explicações mais firmes sobre as histórias ficarem um pouco triste, mas eu considerei um trabalho incrível. O conto de passa por cartas trocadas entre duas amigas, então ambas as personagens tem um pouco de voz ao contar os fatos. E que fatos!

A realidade é que poderia citar aqui todos os outros contos, mas queria dar atenção a esses quatro, principalmente. Ao todo, os 13 contos nos dão material de refletir como é rica a literatura que, muitas vezes, não conhecemos, por descaso, preconceito ou uma ideia antiquada de que mulheres não se arriscaram tanto no terror.
É triste pensar o quanto já ouvi que mulheres não escrevem ou produzem terror, e que é difícil de encontrar. A dificuldade em encontrar esses trabalhos está intrinsecamente ligada a falta de esforços ou de vontade para se conhecer outras vozes e outras narrativas.
* Livro recebido em parceria com a Editora DarkSide.
Compre os livros:
Monster, She Wrote: Amazon edição física | Edição kindleVitorianas Macabras: Amazon edição física | Loja DarkSide
Medicina Macabra: Amazon edição física | Loja DarkSide
Antologia Macabra: Amazon edição física | Loja DarkSide
Conheça outras autoras:
Aqui no site você encontra um local especial e totalmente dedicado às mulheres que escrevem horror. Por enquanto, a listagem está destinada principalmente para mulheres que foram traduzidas para o português, mas a intenção é que, logo, a lista aumente e sejam colocadas também as autoras nacionais e indicações de leituras em inglês. Você pode acessar no topo do site, com o nome de Escritoras de Terror. Há também uma lista criada por Karen Alvares de mulheres que produzem terror no Brasil, que pode ser acessada clicando AQUI.
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