O Silêncio da Casa Fria, de Laura Purcell
Até hoje me lembro a primeira vez que vi o episódio Blink, de Doctor Who. Décimo episódio da terceira temporada, com o décimo Doctor, interpretado por David Tenant, em que estátuas de mármore em formato de anjos chamadas Weeping Angels, ou Anjos Lamentadores, começam a aterrorizar a cidade e pessoas começam a desaparecer, e cabe ao Doctor tentar enviar um recado. Essas estátuas, entretanto, só se movimentam quando as pessoas piscam ou estão com os olhos fechados.
Foi o primeiro episódio de Doctor Who que assisti, uns quase dez anos atrás, e é um dos mais aterrorizantes da série. Enquanto lia O Silêncio da Casa Fria foi impossível não me lembrar daquela sensação aterradora de "se eu fechar os olhos, algo pode estar avançando na minha direção neste momento".
Sobre o livro
Lançado aqui no Brasil pela DarkSide Books e traduzido por Camila Fernandes, O Silêncio da Casa Fria, escrito por Laura Purcell, é um romance que brinca (e aterroriza) com diversos elementos das histórias góticas tradicionais. Na história, Elsie, que acabou de se casar com o Sr. Bainbridge, acaba se tornando viúva e parte com a prima de seu falecido esposo para morar na residência rural da família, uma casa que fica afastada de Londres, chamada Ponte. Elsie está grávida, e como tinha acabado de se casar e se tornar viúva, seu irmão acha uma boa que ela seja afastada da sociedade por um tempo.
Na Ponte há poucos empregados, e logo Elsie descobre porquê: as pessoas da região não querem trabalhar ali, pois alegam que a mansão é amaldiçoada. Vários empregados morreram no local, além de terem sido descobertos esqueletos no jardim e, a cereja do bolo: afirmam que uma bruxa viveu ali uns dois séculos antes, ancestral dos Bainbridge. Logo, a prima do falecido esposo de Elsie, Sarah, descobre os diários da mulher e os mistérios começam a se encaixar.
A narrativa do livro ocorre em três períodos diferentes. O primeiro contato que temos com Elsie, logo no primeiro capítulo, é quando ela está em Hospital para Insanos, sendo tratada como criminosa, mas não sabemos qual teria sido seu crime. Em seguida, Elsie começa a escrever para o médico que a está tratando sobre os acontecimentos de sua estadia na Ponte, mencionando o diário e algumas coisas estranhas que acontecem em sua mansão.
Uma das coisas mais estranhas sobre a mansão dos Bainbridge é que em seu sótão Elsie descobre estranhas figuras pintadas em madeira, que parecem um quadro mas tem mais dimensões. São chamados de "companheiros silenciosos". Outro nome para eles são "dummy boards", manequins ou placas de madeiras, um item de decoração que sobrevive desde o século XVII e que pode, realmente, ser bastante aterrorizante.
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©National Trust Images/Andreas von Einsiedel - Retirada do site Treasure Hunt |
Então sim, bem pode se perceber porque Elsie as odeia tanto no livro.
Essas peças de decoração são um dos motivos para que o livro seja tão aterrorizante e para que eu tenha começado a escrever esse texto me lembrando de Doctor Who e os Weeping Angels. A forma de ataque de ambos é bastante semelhante: eles fazem um barulho de madeira arrastada e, conforme você se mantem de olhos bem abertos, eles são menos ameaçadores (mas ainda podem se movimentar).
Outro ponto interessante a se destacar são elementos comuns presentes no período em que se passa a história e na narrativa. Em determinado momento, quando as coisas estão começando a ficar de fato macabras na casa, Sarah dá a ideia de chamar algum espiritualista para realizar uma sessão espírita na casa. Naquele momento, com a história se passando em parte em 1885/6, a doutrina espírita estava em alta e era bastante procurada pela elite londrina.
Além de todos os detalhes e referências, é preciso dizer que a escrita de Purcell é incrível. Algumas vezes, em determinadas partes, e principalmente durante as passagens do diário de Anne Bainbridge, um tom familiar e semelhante ao da Shirley Jackson, e isso me fez me apegar mais ainda a leitura. Além disso, Purcell domina bem o tema e conta uma história de fantasmas arrepiante, digna de A Outra Volta do Parafuso, de Henry James. Os dois livros, bem como Assombração da Casa da Colina, contém semelhantes que me deixaram bastante interessada: os fantasmas, a casa assombrada, a forma como a mente é suscetível a esses elementos, e a própria maldade humana são algumas das características que os três livros tem em comum e fazem com que eu tenha gostado tanto de O Silêncio da Casa Fria.
Uma leitura rápida e assustadora, interessante e muito bem escrita; uma excelente recomendação para aqueles que gostam de histórias de fantasmas e casas assustadoras.
* Livro recebido em parceria com a Editora DarkSide.
Compre os livros
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2 comentários
Ahhhhhhh, sabia que você ia gostar! 🖤
ResponderExcluireu adoreeeeei, que climão delicioso! e os detalhes, os companheiros silenciosos, amei tudo!!!
ExcluirComentários educados são sempre bem recebidos!
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