Twentieth Anniversary Screening, de Jeff Strand
Tenho estudado inglês e, consequentemente, tenho tentado ler mais em inglês também. Então, esses tempos atrás, saiu a lista dos vencedores do Bram Stoker Awards, que foram selecionados entre os livros de 2021. Eu gosto sempre de acompanhar essas listas, porque gosto muito de ver tendências (algo que já mencionei bastante sobre filmes, também faço com livros). Depois que aprendi a mexer em feed de blogs tenho acompanhado alguns muito bacanas, entre eles o Crime Reads e o Literary Hub, então sempre tem alguma novidade legal do que vai ser lançado, o que as pessoas estão lendo e afins.
E aí, quando saiu a lista de vencedores do Bram Stoker, eu queria ler alguma coisa. Eu estava visando terminar o pesadelo que foi a leitura de Memnoch e queria me divertir, e já tinha lido o vencedor de Melhor Romance (que foi o My Heart is a Chainsaw, resenha dele aqui), então fui atrás de algo rápido, e me deparei com o vencedor da categoria de Melhor Ficção Longa/Novela.
Eu não tinha ainda ouvido falar do Jeff Strand, mas além de Twentieth Anniversary Screening ter ganho esse prêmio, ele ainda estava sendo muito elogiado em algumas resenhas que procurei. E tinha só 67 páginas. Então eu resolvi ir atrás dele.
Logo de cara a sinopse me chamou a atenção: uma comédia de horror, no estilo mockumentary (aqueles documentários falsos, tipo What we do in the shadows), escrita no formato de um artigo para a internet sobre um filme slasher (fictício) lançado em 1991, chamado The Roofer, que estava completando seus 20 anos com um evento especial em 2011. O problema é que o lançamento de The Roofer foi marcado por uma tragédia, assim como seu aniversário.
Eu adorei o caos dessa história. E o formato de artigo é muito interessante: o distanciamento do autor, os comentários possíveis sobre essa história, tudo poderia contribuir para uma narrativa divertida. E não me enganei: o livro é muito divertido mesmo. Desde o início ele abraça o absurdo a partir do momento em que ele interrompe a escrita do seu artigo para pedir a todos que possam fazer alguma doação para seu site que, por gentileza, os ajudem a se manter no ar.
No início da história acompanhamos uma descrição desde a primeira estreia do filme, em 1991: o filme era sobre um cara que consertava telhados e aí começa a cometer assassinatos primeiro com os objetos que usava para consertar os telhados, e depois com o que via pela frente (incluindo um tipo de churrasqueira que torna tudo mais absurdo mais adiante). Enfim, um bocado ridículo, sim, mas os detalhes é que são incríveis aqui: as pequenas discussões sobre se o filme é ou não considerado pelos especialistas como um slasher, que ele não era realmente um bom filme, mas foi lançado já no final da era de ouro dos slashers, e antes de Pânico fazer sua grande volta, etc.
O livro é dividido em quatro partes: nessa primeira, conhecemos mais sobre o filme e sobre essa primeira tragédia; a segunda parte já avança para o aniversário de 20 anos do filme, e nos apresenta outros três personagens importantes para os acontecimentos dessa cerimônia: uma das atrizes do filme, contratada para uma sessão de perguntas e respostas, um hater do filme, e um serial killer que, de repente, ouviu falar do filme; já a parte três se concentra mais na reexibição do filme e da sessão de perguntas e respostas; e a quarta parte é o caos generalizado.
As partes três e quatro contam com algumas opiniões do elenco do filme, do diretor, do gerente do cinema, tudo isso como em um artigo que costumamos escrever para a internet mesmo, sabe? Parece muito palpável, não fosse todo o absurdo da situação, todos os desencontros, todos os detalhes que tornam essa história engraçada.
É como se Fargo encontrasse Terror nos Bastidores. Ou Tucker and Dale vs Evil. Não sei, mas é como se Fargo se passassem no cenário de um filme de terror. E eu uso Fargo como comparação porque ainda hoje acho impressionante os desencontros daquele filme, e é mais ou menos isso que Jeff Strand faz: depois que o cenário é estabelecido e entendemos o que foi o filme, qual teria sido a tragédia da estreia, e o que seus próprios produtores pensam dele, nós somos apresentados ao absurdo desencontro que aconteceu no fatídico vigésimo aniversário de The Roofer.
Enfim, eu me diverti muito. A escolha do formato de artigo me deixou muito fascinada, todos os detalhes que fazem com que a gente pense mesmo que está lendo um artigo de internet é incrível. Todos os personagens são meio péssimos, principalmente o gerente do cinema que, a gente percebe, está passando pelos piores momentos de sua vida. Tudo funciona muito bem ao longo do livro.
O livro não está disponível em português, o que é uma pena. Mas se você lê inglês eu deixo aqui a recomendação. Ele está disponível no formato digital na Amazon*. É um livro curtinho e divertido, dá pra dar algumas boas gargalhadas.
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*Comprando com meus links da Amazon, você dá aquela forcinha sem pagar nada a mais por isso :)
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