Da Magia à Sedução, de Alice Hoffman
Alguns livros são como um soco na boca do estômago: você os lê e precisa de tempo para processar o que o atingiu. Outros, são como um jogo divertido de quebra-cabeças, e você perde horas de sono para lê-los e descobrir os mistérios que os envolvem. Temos ainda os livros que são como um monstro dentro do seu armário, à espreita, e se fecharmos os olhos sentiremos os dele em cima de nós, como se fossemos observados constantemente. E aí temos os livros que são como abraços, xícaras de café, um belo prato de creme de abóbora ou um barulhinho de chuva na janela, bem de leve; todas aquelas coisas que nos trazem felicidades.
Me lembro da primeira vez que assisti Da Magia à Sedução, e como transformei esse momento em uma tradição para a minha vida. Sandra Bullock, Nicole Kidman, Stockard Channing e Diana Wiest (e só anos depois eu descobriria que a garotinha ruiva era Evan Rachel Wood)... aquelas mulheres estranhas, que têm uma ligação tão forte com o mundo natural, que agem com tanta segurança diante das adversidades e contam umas com as outras, mesmo quando discordam entre si. Tudo isso com uma trilha sonora impecável, com direito a muitas músicas de Stevie Nicks.
Eu li As Regras do Amor e da Magia em seu lançamento no Brasil, em 2019, mas não havia lido Da Magia à Sedução até agora. Eu queria lê-lo em português, e a edição em português estava esgotadíssima, sendo encontrada somente por um valor absurdo em alguns sebos. Mas, certo dia, caminhando pela internet a fora, vi que o livro seria relançado. E meu momento finalmente chegou.
Sobre o livro
Da Magia à Sedução, de Alice Hoffman, foi relançado recentemente pela editora Jangada, do Grupo Pensamento, com tradução de Denise de Carvalho Rocha. No livro, as irmãs Sally e Gillian Owens, que se tornaram órfãs muito cedo, foram viver com suas tias Fran e Jet (as protagonistas de AAs Regras do Amor e da Magia). Mas a casa das tias é bastante desregrada, e Sally, a mais velha, se nega a viver daquela forma — ela insiste em realizar refeições saudáveis, enquanto suas tias permitem muitos bolos de chocolate e todo o tipo de guloseimas; segue uma rotina de lavar as roupas e limpar a casa, sendo que suas tias realmente não se incomodam com isso. Para Sally, a única coisa importante é ser normal. Gillian, uma garota rebelde desde cedo, só espera sumir logo daquele lugar.
O maior agravante da vida das garotas é como elas são tratadas na cidade: desde muito pequenas, elas são consideradas estranhas, tudo porque dizem que as mulheres Owens são bruxas. Todas as mulheres Owens carregam os olhos acinzentados de Maria, e todas elas possuem algum dom — seja compreendendo as pessoas, compreendendo os ingredientes naturais, ou compreendendo que são belíssimas e dignas de nota, arrebentando corações por onde passam —, e todas elas, também, fazem péssimas escolhas no amor. As tias realmente fazem alguns feitiços, principalmente para as moças da cidade, que querem conquistar suas paixões mais profundas — o que as coloca em algumas situações complicadas. Assistindo as tias fazendo esses trabalhos, e vendo a situação que algumas moças chegam em sua casa, as irmãs prometem nunca se apaixonar daquela forma.
Gillian consegue fugir da casa das tias, e se mete em diversos relacionamentos terríveis, enquanto Sally fica ainda uns anos morando na grande casa da Rua das Magnólias, onde vivem as tias, até que um dia se apaixonada e se casa. Do casamento, Sally tem duas filhas, Antonia e Kylie, e tudo vai muito bem, até o dia em que seu marido falece em um acidente. Sally, desconsolada, passa um ano sem conseguir se comunicar, até que decide ir embora.
Até aqui, todos esses acontecimentos são muito parecidos com os do filme, e ocupam a primeira parte do livro que, dividido em quatro partes, se distancia cada vez mais da obra original. Sally, ao se mudar para alguma região de Nova York, acaba se tornando uma mulher em que todos confiam, um verdadeiro pilar da comunidade. Trabalha como secretária na escola da região, tem uma casa bonita e segura, todos gostam dela, e ela não consegue se apaixonar por homem nenhum.
Após alguns anos, com uma vida estabelecida, Antonia e Kylie crescendo até os 18 e 13 anos, respectivamente, Gillian aparece na porta de Sally e lhe pede ajuda: seu namorado, Jimmy, um homem horrível, morreu. E a culpa meio que é dela. Sally faz a única coisa que poderia nessa situação: ajuda a irmã a enterrar o cara no quintal de sua própria casa, e acolhe a irmã mais nova para morar com ela.
Esse acontecimento dá uma mexida nas coisas e é a partir daí que a vida das duas irmãs, das filhas de Sally, e até mesmo das tias Fran e Jet, tomam um rumo diferente ao que elas esperavam. Sally terá que aprender que suas filhas estão crescendo, Gillian terá que colocar os pés no chão, e Antonia e Kylie precisarão aprender quem são — e as tias sairão de sua casa na Rua das Magnólias depois de 40 anos para ajudar quando suas sobrinhas as chamam.
"Existem algumas coisas, afinal de contas, que Sally Owens sabe com toda a certeza: sempre jogue o sal derramado sobre o ombro esquerdo. Plante alecrim junto ao portão do jardim. Acrescente pimenta ao purê de batatas. Plante rosas e alfazema para ter sorte na vida. Apaixone-se sempre que tiver uma oportunidade."
Mesmo conhecendo basicamente a história, o livro foi uma imensa surpresa. Já haviam me avisado que ele era bem diferente do filme, mas isso não alterou em nada o carinho que, agora, sinto por ambos. A essência das personagens é a mesma. Foi como se eu estivesse lendo uma aventura nova de personagens que eu já era apaixonada, e isso foi um ponto altíssimo para mim.
Gillian é uma personagem interessante, com suas escolhas tortas e seu modo de viver, e Sally, apesar de completamente oposta da irmã, tem vários outros encantos. Sally e Gillian são consideradas pelas tias como Noite e Dia, de tão diferentes que são. As duas estão entre minhas personagens favoritas da ficção, e vê-las agindo em situações que eu ainda não conhecia fez com que eu me divertisse muito. A surpresa maior foi ver a relação entre Kylie e Antonia, que tem pouco destaque no filme, e tem maiores momentos no livro. Gostei muito. Acho que, afinal, amo todas as Owens, e acabo sentindo uma enorme simpatia por elas. Independentemente de como você seja, vai acabar encontrando algum traço que fale com você. Comigo, falaram muitos.
Uma das coisas mais fortes em Da Magia à Sedução, e vejo isso tanto no livro quanto no filme, é a relação familiar entre as Owens, e é uma das coisas que mais me faz gostar das duas obras. Mesmo com todas as diferenças entre elas, elas mantém um laço firme de amizade e assistência, que eu acho impressionante. Sally sabe que Gillian estará para ela, e vice e versa, o mesmo com Antonia e Kylie, o mesmo com as tias. Há algo tão forte no laço familiar das Owens, tão potente na história toda, que me deixou fascinada.
Entre discórdia e amores perdidos, novos amores e momentos aterrorizantes para as mulheres Owens, Da Magia à Sedução é aquele tipo de livro que, quando terminamos, ficamos um pouco desolados e queríamos ler mais algumas páginas. Por sorte, temos o prequel As Regras do Amor e da Magia, e temos outros dois livros da coleção, somente em inglês, que são Magic Lessons, sobre a própria Maria Owens, e The Book of Magic, conclusão dessa saga mágica e encantadora, um tipo de sequência de Da Magia à Sedução.
Torço para que a Editora Jangada traga os próximos livros, para que mais gente tenha acesso a essas leituras em português e se apaixone um pouco também.
2 comentários
Eita que tem edição nova desse livro! Também ficava de olho nos sebos e na versão em inglês, mas os preços absurdos!
ResponderExcluirEita (2) que a história tem continuações!
Os preços desanimavam mesmo, né? eu pensei várias vezes em comprar a edição em inglês, quando rolava aquelas promoções de pague 3 e leve 4, mas af queria TANTO ler em português. E a edição ficou bem legal.
ExcluirPOIS É!!! Tem, e são bem legais também. Quero reler a outra que saiu em português, que é o segundo livro, pra me lembrar melhor dele <3 mas recomendo muito, os dois.
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