Eu te gritarei para casa: Love - A História de Lisey, de Stephen King
Ler Stephen King, para mim, é como encontrar o conforto. É como encontrar um velho amigo, que te conta uma história com carinho — que pode nem sempre acabar como esperamos, ou acabar bem. É quase como acordar em um dia frio, tomar uma boa xícara de café e se enrolar em uma manta macia. Ler Stephen King me traz muitos sentimentos, e suas histórias são faróis em diversos momentos para mim.
Já comentei algumas vezes como li os livros de King em momentos complicado e que eu precisava muito de uma âncora. O final da faculdade foi marcado por Salem', o falecimento de minha avó por It, entre tantos outros momentos que prefiro deixar guardados somente para mim. Recentemente peguei Love - A História de Lisey para ler, sem imaginar que seria outro desses momentos importantes.
Externamente não há nada acontecendo em minha vida, além da ansiedade pela vacina e a solidão que tem se apossado cada dia mais da minha cabeça. Mas, internamente, depois de tantos meses sendo companhia a mim mesma, muita coisa mudou na forma que me vejo no mundo. Love trouxe alguns desses sentimentos de volta, e me apeguei de forma especial a esse livro. Acabou se tornando um dos meus preferidos do King, e entra fácil na minha lista interminável de preferidos da vida.
Sobre o livro
Em Love conhecemos a história de Lisey, casada com um escritor internacionalmente famoso chamado Scott Landon. Mas, no momento que começamos a ler o livro, já sabemos uma informação importante: Lisey é viúva, e há dois anos perdeu o marido. Não sabemos exatamente o que aconteceu, mas foi uma morte triste e prematura, visto que Scott era um homem novo.
Claro que ao longo do livro conhecemos mais sobre os acontecimentos da vida de Scott, da vida de Lisey, do relacionamento dos dois. Mas, se tratando de King, não são simples flashbacks. Estamos falando de flashbacks bastante reais, lembranças muito vívidas para Lisey e para nós, leitores.
Ao mesmo tempo que Lisey precisa passar por esses momentos de lembranças, muitas vezes difíceis demais para ela, há um homem louco a perseguindo para conseguir botar as mãos nos trabalhos que Scott deixou para trás; e sua irmã está passando por momentos extremamente difíceis: Amanda, uma das irmãs de Lisey, tem momentos de automutilação e atinge um estado catatônico. Lisey precisa lidar com todas essas coisas de uma vez.
As lembranças de Lisey são suscitadas pelo próprio Scott, que propõe um tipo de caça ao tesouro para ela, da qual chama de caça ao bool — algo que ele e o irmão mais velho criaram quando eram crianças. Conforme Lisey cumpre essas tarefas, começa a recordar momentos seus com Sott, e é nessas lembranças que encontramos a chave para conhecer mais sobre o relacionamento dos dois, além de respostas para muitas perguntas que Lisey procura, e saídas para alguns de seus problemas.
"Tinha imaginado que dois anos seriam o suficiente para que a estranheza passasse, mas não eram; o tempo parecia ter apenas cegado a lâmina afiada da dor, de modo que ela a cutucava em vez de cortar."
Lisey, Scott, Amanda, a história de vida desses três personagens, a forma como o livro é narrado, a escrita gostosa de King que é como um abraço em certos momentos e como um chute na cara em outros, tudo isso contribuiu para que minha leitura fosse uma das que mais gostei de ter feito. Lisey é uma personagem determinada, que enfrenta o luto de forma muito humana, enquanto Scott é o tipo de pessoa que atrai outras pessoas, uma personalidade que é muito vívida nos momentos em que é descrito no livro. Amanda também é uma personagem muito interessante, que tem grande importância no desenrolar de tudo.
E, claro, o relacionamento de Scott e Lisey é algo a se acompanhar e ficar fascinado pela dinâmica do casal. A intimidade, a força, o amor que pode ser sentido através das palavras e do luto de Lisey. É um livro sensível, ao mesmo tempo que é arrepiante e tenso.
Não podemos falar de Love sem comentar uma das criaturas mais aterrorizantes de King, que é o "garoto espichado". Uma criatura que habita um mundo além do nosso, e está sempre presente com aqueles a quem ele coloca os olhos em cima. Um monstro sem forma definida, aparecendo de diversos tipos ao longo do livro, mas sempre descrito como algo que está sempre à espreita, sempre aguardando. Esse é outro dos grandes detalhes do livro que me deixou muito curiosa: essa criatura não aparece completamente se não até o final, e as pistas deixadas sobre ele, e sobre tantas outras coisas, são construídas com calma, devagar, apresentadas ao leitor no melhor estilo de narração do King.
Mas não quero me aprofundar muito sobre esse mundo em que essa criatura vive, ou me aprofundar sobre a mente do Scott e sobre os passos que Lisey dá e as coisas que ela descobre. Uma das graças do livro é exatamente essa: conhecer, junto de Lisey, todos esses detalhes, construídos delicadamente.
Li o livro em uma edição de bolso da Editora Objetiva, com tradução de Fabiano Morais (consegui essa edição na única Bienal do Livro que fui, em 2018, por R$5,00, uma pechincha). Mas a Editora Suma está relançando o livro com uma capa belíssima e recomendo muito a leitura, principalmente para os leitores que gostam dessas histórias mais atmosféricas e de suspense do King, com um bom drama para equilibrar a balança.
No começo do mês, a AppleTV+ estreou a série baseada no livro, que acabou intitulada Lisey's Story. Protagonizada por Juliane Moore e Clive Owen, respectivamente como Lisey e Scott, com roteiro do próprio Stephen King, a série contará com oito episódio. Foram lançados três até agora, e pelo que pude ver algumas mudanças foram feitas do livro à série (como o professor que vai atrás de Lisey, imagino que para diminuir um pouco os personagens, e sua relação com uma das irmãs, que ficou mais dura). Detalhes também foram adiantados, como momentos mais para a metade ou final do livro sendo revelados antes. Mas, no geral, tem sido interessante ver um pouco do que passei os últimos dias acompanhando e imaginando. Juliane Moore está perfeita no papel de Lisey.
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Lembrando que, comprando com meus links da Amazon, você dá aquela forcinha sem pagar nada a mais por isso :)

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