[FILME] Medusa, de Anita Rocha da Silveira

by - março 14, 2023


Há muito tempo que eu não escrevo sobre filmes aqui no blog. Na verdade, até tenho uns textos guardados no rascunho, que ainda não encontraram seu caminho para serem publicados — e, apesar disso, sigo falando de filmes lá no 365 Filmes de Horror, blog que montei com meus amigos pra postar umas dicas de filmes, escrever um pouco, conhecer o gosto do pessoal.

Mas quando eu assisti Medusa, dirigido pela Anita Rocha da Silveira, eu precisava escrever, sabe. Não era só dizer que gostei, ou fazer alguns apontamentos. Eu precisava falar sobre ele, sobre os elementos, sobre a atmosfera, a brilhante escolha da trilha sonora, da iluminação, de tudo.

Se você é meu leitor há algum tempo, seja aqui, no finado twitter, no instagram, ou se ouvia o The Witching Hour, deve saber que eu sou uma grande fã da Anita Rocha da Silveira. Mate-me Por Favor, filme anterior da cineasta, é um dos meus favoritos da vida. Acho ela uma diretora extremamente competente, ainda mais quando o assunto é juventude. Então, quando saiu o anúncio de Medusa, eu não estava me aguentando de vontade de assistir. Por sorte, recebi o convite de cabine online e pude conferir antes do filme estrear no circuito comercial brasileiro.


Aliás, queria abrir aqui o parêntese para elogiar as cabines online. Vocês salvam a vida dos produtores de conteúdo do interior. Muito obrigada agência Sinny e Vitrine Filmes que disponibilizaram essa pra gente.

O filme abre com uma cena de perseguição de uma jovem. Quem a persegue é um grupo de garotas que, assim que a pegam, começam a dizer coisas terríveis a ela e dizem que ela tem que aceitar Deus no coração e renunciar aos pecados do mundo. Logo em seguida, depois que as jovens já terminaram seu "trabalho" e seguem caminhando, enquanto vemos os créditos de atrizes e atores que estiveram no filme, ouvimos "Cities in Dust", da Siouxsie And the Banshees. "We found you hiding, we found you lying choking on the dirt and sand. Your former glories and all the stories, dragged and washed with eager hands. Oh, oh, your city lies in dust, my friend."

Esse início já nos dá um bom panorama sobre o filme: um grupo de jovens justiceiras a serviço de Deus contra os pecadores. A premissa é bem simples, mas a forma como Anita Rocha da Silveira a desenvolve é, novamente, assim como em Mate-me Por Favor, impressionante.


Ao longo do filme nós desnudamos não somente o fanatismo religioso assustador desses jovens — tantos das justiceiras quanto do grupo masculino equivalente, que, ao contrário das moças, agem às vistas de todos —, mas também a hipocrisia das tentativas de se manter uma aparência insustentável. 

De pano de fundo dessa narrativa temos a história de uma moça que, ao ser taxada como messalina, meretriz, prostituta, de ser "livre demais", acabou sendo desfigurada por uma mulher mascarada —  com as mesmas máscaras que as jovens utilizam agora. Obviamente elas utilizaram essa história para criar seu grupo de vigilantes, mas o que chama a atenção mesmo é a fascinação que duas das jovens têm não pela mulher que "vingou" as morais e os bons costumes, mas com a própria moça que foi desfigurada. Elas não se importam tanto em quem fez o serviço, mas querem descobrir onde está a jovem que sofreu com essa justiça torta. 

Assim como no filme anterior, Anita também utiliza aqui o elemento dos cultos religiosos jovens, cheios de neon e músicas pop chicletes. É nesse ambiente que essas garotas, por exemplo, encontram seus pares, fazem amizades e socializam. E é também nesse ambiente que elas fazem política. Tudo muito bem baseado na realidade, infelizmente.


Aqui eu nem sei se posso dizer que houve algum exagero da parte de Anita ao retratar essa juventude doente e fanática. Tempos atrás assisti ao documentário Extremistas.br, da GloboPlay, e posso dizer que atitudes ali, de pessoas reais, que estavam sendo gravadas para um documentário, chegam muitíssimo perto de atitudes que esses jovens têm ao longo da narrativa.

Outro ponto interessantíssimo a ser observado é como essas jovens não deixam a feminilidade de lado. Elas ostentam essa feminilidade e utilizam isso como um troféu. Uma das líderes do grupo, Michele (Lara Tremouroux), tem até um canal no youtube para falar como as jovens podem melhorar sua imagem. No auge da ironia, ela também mostra como as jovens podem esconder certos tipos de machucados. E é essa ironia tão latente que faz o filme, para mim, ser tão grande. Tudo é muito irônico e hipócrita, assim como vemos que as coisas são, realmente, em certos tipos de cultos e igrejas. É uma crítica extremamente bem apontada.


Mari Oliveira está excelente no papel principal, como Mariana. Ela é uma das líderes desse culto de vigilantes do senhor, e é, também, uma das primeiras a começar a decair. Mari já fez um papel excelente no filme anterior da cineasta, e nesse ela continua se destacando. O título do filme, também, não pode passar despercebido: Medusa é uma figura que tem passado por ressignificados, sendo hoje vista uma personagem que sofreu uma punição (de uma Deusa), em algumas versões do mito, por algo que não foi sequer culpada.

Medusa estreia dia 16 de março nos cinemas. Vou deixar o trailer logo aqui abaixo para vocês conferirem. Já Mate-me Por Favor está disponível na Netflix para quem ainda não assistiu. Eu recomendo muito. 




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