TOP5: Livros que acabaram comigo

by - maio 20, 2022

Jove Decadent, por Ramon Casas. 

Sempre tem aqueles livros que a gente vai lendo, vai sentindo um aperto no peito, vai ficando cada vez mais apegado a alguns personagens, e quando a leitura termina parece até que deixamos um pedaço de nós mesmos ali, naquele objeto. Alguns livros acabam com a gente.

A Sybylla, do Momentum Saga, postou essa semana um TOP 10 de livros que acabaram com ela, e convidou a mim e a Michelle para escrever um também. A Michelle já postou o TOP dela aqui

Esse TOP5 na verdade foi engraçado. Estou pensando nele há alguns dias. Claro que alguns livros logo me vem a mente, mas foi um exercício muito legal repensar os sentimentos que livros me causaram. 

Quanto à definição do que é esse "acabaram comigo" eu escolhi livros que me deixaram com uma impressão muito forte — tanto aqueles que me fizeram chorar muito, quanto aqueles que eu terminei completamente descaralhada das ideias. Sabe quando alguns cheiros despertam memórias adormecidas? Gosto muito dessa sensação, e tenho uma parecida quando o assunto são livros. Posso não me lembrar exatamente de tudo que acontece na história, mas alguns livros me deixaram uma marca muito precisa e profunda.

05: A Garota da Casa ao Lado, Jack Ketchum

Começo por esse porque não sei se poderia começar por outro. Esse livro na verdade foi um trabalho, participei da equipe de revisão dele, e foi um soco no estômago a cada capítulo lido. É terrível, assustador, e tudo atinge níveis ainda mais tenebrosos quando a gente sabe que aquilo tudo foi baseado em uma história real. No livro, duas irmãs vão morar com a tia depois da morte dos pais, e os filhos dessa mulher, junto com alguns vizinhos, passam a tratar as garotas extremamente mal, com castigos e abusos de todos os tipos. Foi preciso muito estômago. Ketchum tem uma narrativa impressionante, vívida, e ter colocado a história em primeira pessoa, mas contada com anos de distância, foi uma jogada interessante — um distanciamento necessário do narrador-personagem. Não alivia o sentimento, mas é um distanciamento bem vindo. 

04: Love: A História de Lisey, de Stephen King


Sim, eu poderia escolher mil e um livros do King para colocar aqui. A escolha mais óbvia talvez pudesse ser O Cemitério, ou algum mais dramático. Rose Madder, por exemplo, estou lendo há mais de três anos e nunca consegui terminar, não sei, é um livro pesado, não consigo avançar muito, me entristece demais. Mas quando olhei para minha estante e pensei "poxa, qual livro acabou comigo?" meus olhos foram diretamente para Love. Ele não é o favorito de muita gente — aliás, as pessoas nem gostam muito desse livro num geral. Mas tem alguma coisa nele. Acho que foi algum tipo de feitiço. E, afinal, o coração tem razões que a própria razão desconhece. Em Love: A História de Lisey, Lisey acabou de ficar viúva. Seu marido era um famoso escritor. Quando seu marido morre, entretanto, ele deixa uma série de pistas e caminhos para ela, e ela acaba descobrindo uma nova parte de seu amor pelo homem que conheceu. Tem uma resenha aqui no blog sobre ele, onde eu tento dizer porque, e o que, esse livro me chamou tanto a atenção.

03: Cadáver Delicioso, de Agustina Bazterrica

Li esse livro em inglês, antes que ele tivesse sido anunciado em português pela DarkSide. Foi uma jornada íngreme, tensa, aterrorizante, e às vezes até um pouco nojenta. Mas quando cheguei nas últimas frases desse livro, foi como se uma pedra enorme tivesse sido posta em cima do meu estômago, como se eu tivesse pisado em um prego gigantesco que, até hoje, está na sola do meu pé. Agustina Bazterrica constrói, ao longo do seu livro, um tipo de sentimento que, na última página, ela destrói completamente, com uma ou duas frases. Me deixou completamente sem chão, completamente desesperada, eu não sabia para onde correr. No livro, em um futuro não muito distante, carne humana é comercializada após um estranho vírus ter atingido todos os animais do planeta. É uma leitura arrebatadora, sem dúvida. Tem resenha dele aqui.

02: Nossa Parte da Noite, de Mariana Enriquez


Um favorito da minha vida. Tenho tentado acompanhar a carreira de Mariana Enriquez (pelo menos com os lançamentos aqui do Brasil, ainda não me arrisquei no espanhol) e tem sido uma das minhas autoras favoritas. Quando Nossa Parte da Noite saiu, eu comprei assim que estava em pré-venda. O livro me deixou uma impressão muito profunda, fiquei impressionada e fascinada com ele por dias. Ainda hoje me lembro de algumas partes dele em momentos aleatórios, quando estou lavando louça ou quando estou varrendo a casa. A jornada de duas gerações de uma família complexa, relações complexas, o melhor do realismo mágico, um livro que me deixou completamente fascinada em todas as suas passagens. Fui arrebatada completamente pela história de Juan e Gaspar, e eu não poderia deixar de colocar esse livro nessa lista. Tem resenha dele aqui no blog também.

01: Flores Para Algernon, de Daniel Keyes

Se você me pedir para contar em detalhes o que acontece em capítulo por capítulo de Flores Para Algernon, eu não vou me lembrar. Minha memória, como comentei, não é muito boa. Mas eu lembro exatamente da sensação de tristeza que tomou conta de mim em cada página que eu lia. O livro trata de um experimento capaz de causar o aumento de QI dos pacientes. Charlie é o primeiro humano a tentar o procedimento, mas conforme ele fica cada vez mais "inteligente", ele começa a ter percepções da realidade que são bastante agridoces. Quero relê-lo em algum momento, com mais calma, até, para absorver melhor os detalhes da história. Mas acho que nunca vou superar aquele sentimento.

Menções Honrosas

Preciso deixar aqui também alguns títulos que me deixaram transtornada: 

  • The Outsiders, de S.E. Hinton (resenha aqui): eu não conseguia parar de pensar nesse grupo de amigos que não tinha nada a ver comigo mas que, ainda sim, eu parecia fazer parte deles, há muito tempo, como se tivéssemos crescido no mesmo quarteirão;
  • Parábola do Semeador, de Octavia Butler: acho que foi minha segunda leitura da Octavia. Tudo no livro me impressionou muito, inclusive a possibilidade de realidade. A proximidade;
  • Quem Teme a Morte, de Nnedi Okorafor: eu ainda me lembro quando comecei a procurar mais livros, longe do que eu conhecia, e esse foi um dos primeiros que fui atrás. Foi uma leitura angustiante, me lembro, e preciso revisitar;
  • De Profundis, de Oscar Wilde: meu texto favorito do Wilde, de quando ele esteve preso. Perdi meu exemplar com ele, mas tenho marcas profundas desde a primeira vez que o li, quando tinha 14 ou 15 anos.
  • Terráqueos, de Sayaka Murata: tanto Sybylla quanto Michelle colocaram esse livro em suas listas então precisava mencioná-lo também, porque realmente é uma leitura absurda que, quando termina, você fica meio sem chão por um tempo. Tem resenha dele aqui no blog.

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2 comentários

  1. Lembro da sua resenha sobre O Cemitério e até pensei que ele apareceria aqui na lista, porque é um tema pesado mesmo. Eu até ensaiei começar a ler, mas não acho que seja o momento.

    Agora, o livro da Bazterrica eu tinha certeza que estaria na lista. 😅

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    1. Então! Eu pensei também em colocar Quatro Estações, que é um dos meus favoritos. Mas quando coloquei na balança mental o quanto esses livros mexeram comigo, mesmo O Cemitério sendo tão mais pesado, eu não sei, mas pendeu pro Love. Alguma coisa ali agiu muito fundo dentro de mim hahahaha e eu não faço ideia do que foi até hoje. Mas fiquei com uma impressão muito forte dele.

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