Alfred Hitchcock Apresenta: Antologias Literárias
Parece até um clichê dizer que gosto de coisas velhas. Há ainda muito a ideia de que quem gosta de História acaba, por consequência, gostando de coisas velhas. Não necessariamente, mas acho que esse é um pouco do meu caso. Sempre gostei muito de velharias, tranqueiras, museus, outras épocas (tudo dentro do aceitável, isso nunca me tornou uma pessoa conservadora ou que pensasse "ah, antigamente era muito melhor").
Eu tenho pra mim, até, que isso contribuiu muito pelo meu gosto por pesquisas. Sou curiosa de nascença, e o poder de pesquisar e entrar em contato com umas antiguidades que às vezes passam despercebidas pelo hoje me deixa muito contente — em um nível pessoal, mesmo, já que muitas vezes isso não interessa a muitas outras pessoas. E, bom, posso não ter vínculo com nenhuma universidade ou dar satisfações à academia, mas o que faço é pesquisa, muitas das vezes.
É ainda mais legal quando um objeto interessante pega a gente desprevenida. Estava passeando pelo facebook recentemente (que parei de usar, mas ainda entro de vez em quando, bem raramente), e me deparei com uma postagem do blog Biblioteca do Terror, do amigo Rafael Michalski. O Biblioteca é um dos melhores blogs para pescar alguns livros antigos. E, entrando no blog, me deparei com uma resenha de um livro intitulado Alfred Hitchcock Apresenta: Histórias Para Noites Sem Luar. Fiquei bastante curiosa.
Alfred Hitchcock é considerado por muitos como o Mestre do Suspense, e seus filmes realmente são muito bons — perdi a conta de quantas vezes, em algumas tardes que não tinha nada para fazer, coloquei Os Pássaros porque eu gostava muito de deixar o filme rodar enquanto não fazia nada —, mas Hitchcock também teve sua dose de problemas. O maior deles, e o mais escandaloso provavelmente, foram as acusações de Tippi Hedren, a atriz protagonista de Os Pássaros e Marnie, que alegou em seu livro as investidas de Hitchcock e sua promessa de que, caso ela não se deitasse com ele, ele destruiria sua carreira. Isso tudo, claro, enquanto Hitchcock era casado com Alma Reville, que trabalhou em muitos de seus filmes e é pouco lembrada por isso.
O que me chamou a atenção no livro foi o Alfred Hitchcock Apresenta, que leva o nome da série de TV que ficou no ar por sete temporadas e era apresentada pelo cineasta, e que contou com roteiros de Ray Bradbury, além de episódios dirigidos por grandes cineastas do período, como Ida Lupino. Logo descobri que a antologia não tinha muito a ver com a série, mas a curiosidade já tinha sido despertada. E como minha curiosidade é um animal muito faminto, eu fui tratar logo de alimentá-la.
Comecei pelo próprio blog do Rafael, que fez uma lista excelente dos títulos da coleção que foram traduzidos para o português. Logo em seguida fui procurar como a coleção foi originalmente publicada. Encontrei um site bastante completo sobre Hitchcock no geral, e uma das seções era justamente sobre suas antologias, em ordem alfabética. À essa altura eu já sabia que o próprio Hitchcock teve quase ou nenhum envolvimento com essas edições. A coleção leva seu nome como uma jogada de marketing, principalmente por causa da série de TV, mas ele não selecionou os contos ou nada parecido. Mas, que ainda sim, essa coleção tem diversos nomes icônicos da ficção de terror (várias das edições contam com textos de Ray Bradbury, por exemplo).
Depois disso, eu bati a lista da Biblioteca do Terror, que tinha os nomes originais em inglês na lista, com a lista original. A segunda lista, do site The Hitchcock Zone, também contém links para cada uma das antologias, que levam para páginas com todos os contos presentes em cada uma delas. Aí, eu listei todas no meu caderninhos, e coloquei uma ordem de preferência de quais eu queria conhecer primeiro. Além disso, separei uma pasta de favoritos com todos os livros que encontrei na Estante Virtual.
Foi muito divertido, e dependeu de muita paciência porque fiz tudo pelo celular, mas encontrei algumas coisas excelentes. Descobri, nesse meio tempo, que a Shirley Jackson teve dois contos publicados no nessas antologias, e não somente seus livros e o conto "A Loteria" como eu tinha imaginado. Acabei comprando esses dois livros em seguida, que em português ficaram Açúcar e Veneno e Histórias que Minha Mãe Nunca me Contou. Para minha enorme decepção, assim que os livros chegaram vi que a suas edições em português não contam com os contos da Jackson, mas ainda sim estou muito curiosa para lê-los, e pretendo avançar na coleção.
O primeiro que comprei foi o próprio Histórias Para Noites Sem Luar (que foi traduzido para o português por A.B. Pinheiro de Lemos, lançado pela Editora Record), que gostei muitíssimo. Os contos são realmente muito bons, tirando um ou dois. Mas achei uma média excelente para um livro com 12 histórias curtas. Algumas histórias foram excluídas na edição em português (como aconteceu com os outros dois livros mencionados e os contos da Shirley), mas ainda sim foi um livro que me divertiu muito. É aquele tipo de livro que podemos contar quando estivermos em uma ressaca literárias.
Vou destacar meus favoritos: "Uma Vida Boa", de Jerome Bixby, que eu fiquei completamente desconcertada com a leitura; "Os Turistas da Tragédia", da C.L. Moore (tem resenha de um livro dela aqui no blog, O Beijo do Deus Sombrio, que pode ser lido aqui); e "Uma Noite na Cobertura", de Henry Slesar". Os que menos gostei foram "No Meio do Mato", de Gouverneur Morris e "O Homem que Gostava de Dickens", de Evelyn Waugh, dois contos extremamente datados, daqueles que carregam um monte de problemas dos séculos passados.
Há também o excelente "A Cidade Está Dormindo", do Ray Bradbury, e "Nossos Amigos Emplumados", de Philip MacDonald. Este último muitos consideram um tipo de influência ou mesmo inspiração para a criação do conto "Os Pássaros" da Daphne du Maurier (que foi acusada de plágio por Frank Baker, autor do livro também intitulado Os Pássaros, e publicado entre o conto de MacDonald e o conto de Du Maurier — mas, nesse caso de quem surgiu antes, o ovo ou qual das aves, é difícil dizer).
Essa primeira coletânea foi bem interessante. Estou bem ansiosa para ler as outras, e espero encaixar nas próximas leituras.
Como é de se esperar, essas publicações são antigas, dos anos 1960 e 1970, então não tenho um link da Amazon para elas. Mas a Estante Virtual tem um mundo mágico de livros antigos e praticamente esgotados, além de sebos espalhados pelo Brasil. É sempre bacana dar uma vasculhada e ver o que você encontra por lá ;)
3 comentários
Fico muito feliz de ser lembrado por uma pessoa que admiro, e mais ainda por ser o responsável por você se aventurar nesse universo da coleção Hitchcock, tem muitas histórias e autores bons escondidos nessas páginas.
ResponderExcluirHoje mais cedo encontrei um livro da coleção, o histórias de dar calafrio.
ResponderExcluirComprei pela capa, mas após ler sua resenha fico curioso em visitar a obra recém adquirida
Eu tinha o Com Açúcar e Veneno e peguei emprestado outra antologia, mas nao lembro o nome. Como gostava de FC e fantásticos, no que peguei emprestado eu já conhecia um conto, de autoria do Bradbury. No livro que eu tinha, o melhor conto era do Robert Bloch.
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