Rebecca, de Daphne Du Maurier
Rebecca é um livro de 1938, de Daphne Du Maurier. A autora, que sempre aparece em listas de melhores autoras de terror/suspense, conseguiu escrever uma história emocionante e bastante complicada. Recebeu uma adaptação para o cinema de Alfred Hitchcock em 1940, pelo qual o diretor recebeu o Oscar de Melhor Filme. Outras obras de Du Maurier também foram adaptadas para o cinema, como Os Pássaros (também pelo Hitchcock) e Minha Prima Raquel.
Rebecca é uma história de romance gótico, pelo clima, e de suspense bastante aterrorizante. A personagem narradora não tem nome, e conta a história de como conheceu e como foram os primeiros meses de casamento com seu grande amor, Maximilian de Winter. Os dois se conheceram em Monte Carlo, e se casaram de repente, antes de irem para Manderley, um casarão da família de de Winter.
Uma garota de 21 anos, que não tinha família e foi contratada como dama de companhia de Sra. Van Hopper, uma senhora que não tem muitos modos e tem uma sede de boatos insaciável. Ao conhecer o Sr. de Winter, um homem mais velho, a narradora sente curiosidade por ele, e a única coisa que Sra. Van Hopper sabe, é que o homem acabara de se tornar viúvo, e tinha ido às pressas para Monte Carlo.
Após um período de cama de Sra. Van Hopper, em que todos os dias a narradora saia com Sr. The Winter, ambos se tornam apaixonados e se casam. Porém, o casamento não começa muito bem.
Fico feliz por não acontecer duas vezes, a febre do primeiro amor. Porque é uma febre, mas também um fardo, não importa o que digam os poetas.
É uma figura jovem, tímida, insegura, tem diversos problemas de auto estima, e não se acha boa suficiente para esse casamento, com um homem mais velho, de família rica, com tanta experiência. Mas o pior mesmo é que a casa de Sr. de Winter, uma velha mansão, preserva toda a presença esmagadora e assustadora da falecida senhora: Rebecca. Rebecca parece habitar todos os quartos e todos os corredores, parece viver ali ainda, e ter todo o carinho dos empregados e até do Sr. de Winter.
A presença de Rebecca é opressora, diante de uma pessoa tímida, e é com uma aflição dolorosa que a narradora fala dessa presença. Podemos sentir o peso sob seus ombros por não se sentir à altura de Manterley ou mesmo da antiga moradora da casa. Entretanto, não é por Max que essa opressão ocorre: a própria narradora cria uma imagem de Rebecca, auxiliada por uma governanta da casa, que cuidou de Rebecca desde pequena e não consegue superar a morte da mesma.
(...) e fiquei pensando sobre ser plácida, como isso soava tranquilo e confortável, alguém com o tricô no colo, o semblante sereno. Alguém que não sentia ansiedade, nem se torturava com dúvidas e indecisões, alguém que não tinha a minha postura, esperançosa, aflita, assustada, que destruía as unhas, insegura de que caminho escolher e que estrela seguir.
Se mostra sempre insatisfeita consigo mesma. Em todos os momentos se sente inferior e se sente nova demais, querendo ser mais velha, mais experiente. "Se pelo menos fosse mais velha" é uma frase recorrente no livro, e é escrita de diversas formas. Quando Max aparenta ficar satisfeito com algo que ela faz, quando ela pensa que recebe sua aprovação, se sente melhor, mais madura e mais confiante.
Entretanto, no clímax do livro, quando a narradora percebe, enfim, o que aconteceu, e quando Max lhe conta a verdade sobre ele e Rebecca, a narradora percebe que sua insegurança e sua timidez é que foram as culpadas por tantos meses de sofrimento, por tantos momentos desperta e assustada, com medo de um casamento arruinado.
Perguntava-me quantas pessoas no mundo que sofriam, e continuavam a sofrer, porque não conseguiam romper a teia da timidez e da reserva, e que, em cegueira e insensatez, construíam diante de si uma grande barreira distorcida que ocultava a verdade. Era isso que eu havia feito.
Talvez a parte mais agonizante e pesada de ter lido Rebecca foi me colocar, em todos os momentos de sofrimento, no lugar da narradora. A insegurança é um problema grave quando se trata de bem estar e saúde mental. A narradora, que se sentia inferior a tudo a sua volta, acaba criando situações que, durante a vida de Rebecca, talvez nem tivessem acontecido, e isso a impede de sentir felicidade. Talvez, mesmo que Rebecca fosse uma presença opressora na casa, mas se a narradora e seu marido tivessem tido o cuidado de perceber esses sentimentos, a narradora pudesse ter se permitido aproveitar melhor seu início de casamento.
Daphne Du Maurier foi acusada por Carolina Nabucco de plágio, que enviou uma edição em inglês de seu romance chamado "A Sucessora" (que se tornou novela da Globo nos anos 1970). Nabucco havia enviado o exemplar 4 anos antes de Rebecca ser publicado, para a mesma editora que publicou o romance de Du Maurier.
Apesar do crime de Du Maurier (e não tiro sua culpa com o termo "apesar" no começo da frase), o livro Rebecca é bastante interessante. A autora utiliza de vários elementos para tornar a leitura mais angustiante. Além de toda a aflição da narradora ao contar sua história, a autora utiliza do clima para anunciar os acontecimentos que podem se seguir. As tempestades, o calor, a calmaria, os dias agradáveis acabam sendo um prenúncio do que pode acontecer na vida do casal, o que de certa forma faz você ficar mais apreensivo ao ler o livro.
Não podemos esquecer, entretanto, que a narradora tinha metade da idade de Max the Winter, e [spoiler] Max havia assassinado a esposa e jogado no mar para fazer um acidente. Mesmo que tenhamos consciência da dor da narradora, por percebermos que seus sentimentos careciam de cuidado, é importante deixar anotado que ela estaria bem melhor sem esse casamento. A necessidade constante de aprovação por um homem, o amor acima de tudo, conseguir ignorar um crime para conseguir ter alguns momentos de paz com seu marido, acabam tornando um livro com alguns sérios problemas.
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